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quarta-feira, 22 de maio de 2013

A Criança de Hoje


A educação é uma dessas profissões em que errar é inevitável', dizia Freud à quase um século.

Criar uma criança não é uma tarefa fácil. O bebê, quando nasce, é totalmente dependente dos cuidados dos pais e os seus ritmos de choro, sono e alimentação modificam profundamente a vida dos pais. O início do
andar traz novos problemas e requer outro tipo de atenção. Quando a criança começa a falar, não se torna menos barulhenta de quando apenas chorava; o intenso brincar interfere continuamente nas atividades cotidianas e as brincadeiras com as outras crianças, embora possibilitem a socialização trazem novos conflitos como respeitar os limites, dividir os brinquedos.Os pais frente aos desafios de educar compartilham a responsabilidade da educação das crianças com os avós, babás ou escolas.

Sabemos que, na sociedade atual, a mãe brasileira acumula os serviços domésticos com o trabalho fora de casa. Isso rouba horas que antes eram inteiramente destinadas para as tarefas da casa e aos cuidados dos filhos. O tempo para os filhos está ficando cada vez mais escasso e isso acaba produzindo nos pais um tipo de culpa de que não se está dando tudo o que a criança precisa. Isto pode acarretar, muitas vezes, uma tentativa de compensação de tempo com presentes.

Pais perfeitos não existem. O importante é que sejam acessíveis para que a criança possa recorrer a eles nos momentos difíceis ou simplesmente para compartilhar suas descobertas. Bebês que não conseguem dormir, se alimentar, têm cólicas ou vomitam demais, podem estar sentindo a ausência dos pais. Porém, tempo não é garantia de melhor relacionamento, já que filhos de mães que não trabalham fora necessariamente, não são mais felizes e saudáveis que os outros. Qualidade é mais importante que quantidade.

O que mantém a qualidade na relação com os filhos é a atenção. Por vezes, uma simples brincadeira pode revelar o que uma longa conversa não o fez, porém brincar com a criança não deve ser uma obrigação. O saudável é perceber os recados sutis que os filhos passam para os pais. Uma boa forma de manter os filhos próximos é convidando-os para ajudar a preparar o jantar ou lavar o carro, fazendo com que isso se torne uma grande brincadeira.

Para entender as crianças de hoje, é importante pensar que a criança aprende por modelo e não por discurso. Isto é, os pais são o espelho das atitudes de seus filhos. Recorde sua infância, pense no que você faz diariamente com o seu filho, ou o que faz a pessoa que dele cuida. Analisando o seu comportamento e o seu relacionamento com seu filho, certamente saberá como entendê-lo melhor.

Cristina Briani Brunoro

Adolescência: novas formas de perceber o corpo e ver o mundo


Uma das marcas da adolescência é a busca de si, o deparar-se com os novos desafios e mudanças que marcam a passagem da infância à idade adulta.     

As transformações constantes ao longo de nossas vidas permitem que nos interroguemos sobre o mundo
que nos rodeia. Vamos, aos poucos, incorporando uma forma de pensar, podendo escolher o nosso estilo de vida e o que queremos fazer com as coisas que consideramos importantes.


Nesta fase, também, nos preocupamos com as mudanças do corpo como: peso, acne, estatura, aspecto dos genitais e com a nossa própria forma de pensar que muitas vezes nos surpreendem. Compramos brigas, que no momento seguinte perdem o sentido, tem hora que a solidão nos derruba ou nos sentimos o maioral do grupo,  choramos e rimos sem saber exatamente porquê... O primeiro beijo, a primeira transa, um piercing, uma tatuagem, uma viagem sem os pais são maneira de nos conhecermos e experimentarmos nossa própria sexualidade.

Este é também o momento da busca de autonomia, de flutuar entre a necessidade de independência e a vontade de proteção. É quando conhecemos a paixão e o verdadeiro significado da amizade.

Queremos nos sentir amados  e valorizados pelo que somos, por isso buscamos os diversos grupos de convivência, onde prevalece um sentimento de igualdade e irmandade. São as  afinidades que criam história, objetivos e sonhos,  possibilitando  um sentimento de pertencimento. Grafiteiros, Rappers ou  Skatististas são alguns grupos que permitem a construção de modelos diferentes do familiar, abrindo caminho  para uma identidade própria. Compartilhar os medos, frustrações e inseguranças dá força e auxilia nas escolhas que vão sendo feitas no decorrer da vida: profissão, amor e tantas outras...

 A luta para que o diálogo aconteça em todas as nossas relações é fundamental, pois é a chance de conseguirmos falar sobre o que nos incomoda, formarmos nossas opiniões e sermos respeitados por aquilo que acreditamos.     Essa época é uma travessia: em que você se dará conta de que as dificuldades estão ali para serem  vividas e compreendidas, assim como descobrirá a cada nova vivência algo de bom e prazeroso. 

Paula Sálvia Trindade

Auto-estima: um olhar sobre nós


O tema da auto-estima é bastante atual e complexo. “Ela pode ser definida como um sentimento valorativo de nosso ser, de quem somos, do conjunto de marcas corporais, mentais e espirituais que formam nossa personalidade. A auto-estima envolve o que se pensa de si, os sentimentos que essas opiniões despertam e seus reflexos nos relacionamentos afetivos, sociais e profissionais. Trata-se não só de um olhar que lançamos sobre nós mesmos, mas das implicações desse juízo sobre a vida cotidiana”.A auto-estima já está sendo constituída a partir do momento em que um filho é esperado. Toda criança ao nascer é banhada por vários olhares e desejos, que vão anunciando o que os pais esperam dela. Assim, ao se contemplar no espelho, o bebê não verá o simples reflexo físico de uma imagem, mas tudo o que esses olhares depositaram no seu corpo. 

O bebê vai crescer e formar sua personalidade dentro de um ambiente familiar, que é o principal fator de influência sobre sua auto-estima. A família, porém incorpora os valores, regras e costumes incutidos pela sociedade e pela cultura em que se encontra inserida. A auto-estima está intimamente relacionada a imagem que temos de nós mesmos. Para compreender a relação que uma pessoa estabelece com sua própria imagem é importante saber qual aspecto de sua vida é destacado com mais valor. Dependendo da história de cada um e das influências familiares, sociais e culturais alguns superestimam a aparência física, outros enfatizam o êxito escolar, profissional, as aptidões esportivas.Atualmente vivemos em uma sociedade na qual os valores considerados como melhores são dinheiro, sucesso, poder de compra. As pessoas devem se sentir sempre felizes, satisfeitas, exibir um corpo perfeito, mostrar que alcançaram êxito nas diversas esferas da vida. O TER ocupou o lugar do SER. As conseqüências imediatas destes novos tempos são seres humanos solitários, perdidos, sem referenciais que os norteiem. 

Não há lugar para a tristeza, luto, angústia e sofrimentos de modo geral. E a auto-estima, o que tem a ver com tudo isso? Á medida que pensamos que devemos corresponder a essa demanda do TER, perdemos o elo conosco, com aquilo que julgamos realmente importante e assim, nossa auto-estima se empobrece porque carece de nosso SER.O cotidiano, entretanto, é uma excelente “escola” para exercitarmos e tentarmos equilibrar nossa auto-estima.  Para conseguirmos este objetivo é fundamental conhecer e acolher os próprios desejos e limitações. Os sentimentos que emergem frente às experiências que vivemos são essenciais, para que possamos saber de nós e de como lidamos com as dificuldades, assim nossa tristeza, raiva, frustração e insatisfações não devem ser negadas, mas sim compreendidas e transformadas em “lições” que nos tornarão um pouco mais sábios em nossa forma de olhar a nos mesmos e aos que nos cercam. E vale lembrar uma frase sábia e preciosa para finalizar:“Um erro grave é tanto se julgar mais do que se é, quanto se estimar menos do que se merece”.

Por Neide Barreira Alonso

Epilepsia e Exclusão social


Pode uma pessoa carregar todo o peso da história seu distúrbio? Será que podemos reduzir o ser-humano a poucos instantes de descontrole do corpo, produzido pelo cérebro? Essa é a crise epiléptica, que mesmo com poucos segundos de duração, produz efeitos dramáticos na vida de muitos com epilepsia. 
A epilepsia traz a marca de uma história de mitos, concepções erradas e desinformação, que se manifesta no cotidiano pelas dificuldades vividas na escola, trabalho, relações sociais e mesmo no contexto familiar dessas pessoas.

Podemos dizer que por vezes as pessoas com epilepsia ficam excluídas do cenário da sociedade e mesmo dos dispositivos da área de saúde, como gratuidade nos transportes públicos, acesso a medicação e acompanhamento médico regular, que auxiliam o resgate da humanidade pelo autocuidado. Quem exclui quem? São as Instituições representantes da lei ou o próprio paciente, que permanece paciente, excluído da luta por seus direitos e deveres como cidadão. Mas quantos se percebem cidadãos?

Tratemos então do tema inclusão, para compreendermos como se dá a exclusão social. É interessante abordarmos o significado da palavra inclusão. Incluir quer dizer: compreender, abranger, envolver, implicar, fazer parte, figurar entre outros, pertencer.

O pertencimento acontece quando existe a possibilidade de se construir uma narrativa sobre a própria história pessoal, tendo um outro como interlocutor. A história de cada ser humano é constituída de muitas lutas, muitos fracassos, vitórias, perdas, situações limite, doenças. Inclusão é poder construir a história pessoal, juntando os fios da narrativa que culminou nessas lutas, vitórias, perdas, doenças.

Os grupos sociais, como Grupos de Apoio, Centros de Atenção Psicossocial, Clubes, Comunidades de Bairro podem favorecer a construção de espaços de narrativa em que o indivíduo possa se perceber sujeito de sua história e que seu caminho é constituído não só pela epilepsia, mas por uma rede de vivências, sentimentos, sensações, projetos, lutas. Tudo aquilo que constitui a humanidade do humano origina a inclusão. Quem acredita não ter nada para contar, nada a dizer, nada vivido que valha a pena ser partilhado está excluído de sua própria história. E quem não tem história tem direitos, deveres, algo por que lutar?                          

Diferenciar-se da história de seu distúrbio e assim, marcar seu trajeto singular é a missão daqueles que querem se tornar cidadãos de seu tempo, que desejam construir um tempo de responsabilidade e ação.       

Neide Barreira Alonso

Dificuldades de ser mãe hoje


Ser Mãe hoje não é nada fácil, pois vivemos um momento histórico caracterizado pela fragilidade dos laços sociais, pelo desengajamento em ações coletivas e pelo aumento da velocidade das comunicações que produz isolamento.
Para as mulheres no ciclo gravídico-puerperal, este isolamento pode ser ainda maior, devido às intensas mudanças na condição da mulher nas últimas décadas. A ampliação dos métodos contraceptivos permitiu uma vida sexual menos atribulada por uma gravidez indesejada, possibilitando que o momento da gravidez seja percebido como uma escolha especifica. Com a entrada no mercado de trabalho, surgiram novas maneiras de realização da feminilidade que não apenas a maternidade. Por outro lado, ocorreu uma grande cientificização da maternidade. O parto que até a metade do século passado fazia parte do cotidiano das famílias, sendo realizado em casa num ambiente conhecido com ajuda de parteiras, passa a ser um ato médico e ocorrer no hospital, ambiente pouco familiar e acolhedor.
O aleitamento e os cuidados com bebês que as mulheres aprendiam em casa com suas mães e tias, no convívio com a família estendida passam a ser informações técnicas, a serem adquiridas em livros ou com especialistas. Assim, somando-se todas essas mudanças, muitas mulheres consideram-se pouco aptas para desempenhar a função materna. Não é raro nos depararmos com mulheres que contam que seu bebê é o primeiro que vão carregar...
Observamos que na gravidez e principalmente depois do parto, a existência de uma rede social que dê sustentação para a futura mãe e seu bebê é muito importante, pois o ciclo gravídico–puerperal redimensiona as relações da mulher com todas as pessoas de confiança. Em situações, onde a mulher não dispõe de alguém com quem partilhar suas emoções e suas reflexões sobre as crises que atravessa, a gestação e o puerpério serão vividos com mais sofrimentos.
A chegada de um bebê é um evento que afeta consideravelmente não só os pais, mas todo o entorno social, pois o bebê, pelo seu desamparo constitucional é totalmente dependente e necessita de cuidados intensos, que mobilizam “sentimentos ligados à capacidade do cuidar incondicional”. Há ainda implicações transgeracionais - passagem do lugar de filha para mãe. A rotina da casa e das pessoas que a freqüentam é bastante modificada. São transformações significativas que, muitas vezes, expõem a fragilidade da rede social pessoal.
Consideramos que em situações onde a falha na rede original acontece, é necessário criar uma rede substituta profissional visando restaurar os laços de sustentação, pois este é um período onde estamos diante de um novo ser e da constituição de seu psiquismo. A intervenção possui certa urgência no sentido de minimizar possíveis comprometimentos do psiquismo do bebê que ainda é insipiente.
Roberta Kehdy